Aprendi a ler nem muito cedo, nem muito tarde. Eu diria que aprendi na idade certa para a época em que vivia e o que mais me interessava em meus tempos de menino eram as revistas em quadrinhos. Naqueles anos (década de 80), quase todas as revistas em quadrinhos eram coisas de crianças (bem diferente de hoje) e eu meio que herdava as revistas de um vizinho poucos anos mais velho que eu. Um destes velhos gibis era o do “Esquadrão Atari”, nome que ganhou pela febre do vídeo game de mesmo nome e que tinha vários personagens absurdos, impossíveis e incrivelmente criativos (como toda boa história para crianças). Entre eles havia uma alienígena feia, careca, alta e marrom (ou seria verde?) que possuía poderes de cura e telepatia. Esta personagem vem à mente em muitos momentos na educação...
Não, ela não me recorda a sala de aula por seus aspectos físicos, nem mesmo por seus poderes telepáticos (os quais quebrariam um galho enorme em sala de aula), ela me lembra algo triste que não mencionei ainda.
A personagem era de uma raça onde a cultura determinava que os recém nascidos não podiam sequer saber quem eram seus pais e toda sua juventude era passada em um abrigo-escola onde os professores eram responsáveis não só pela educação como também pela higiene, saúde, alimentação, formação do caráter e formação religiosa...Acima de tudo era uma personagem muito triste. Me recordo dessa personagem toda vez que chamo um pai, mãe ou responsável por algum aluno, e por algum motivo ele (ela) fala: “Ah... mas eu não dou conta dele!”,
“Já não sei o que fazer” ou ainda “não tenho tempo para isso”...
Também me recordo de um dia, em um final de ano letivo, um pai vir conversar comigo sobre o seguinte assunto: as faltas de seu filho. Fiquei feliz de ver aquele pai interessado, principalmente porque ele nunca tinha tempo para tratar dos assuntos de seu garoto... Mas minha comoção durou pouco, pois o assunto que tratou não foi a aprendizagem, mas a perda da bolsa-escola (ou seria família?),
ele nem se importava onde seu filho estaria quando faltava, mas sim com o dinheiro que não teria por ter marcado suas faltas... Por fim ouvi o homem dizer: “Não sei porque já não colocam esses #@%* trancados de uma vez nessas #@%* de escolas, assim não teríamos que nos preocupar mais.”.
Sem responder-lhe, apenas mostrei na caderneta os dias de ausência de seu filho e em minha mente e pensei na velha alienígena do Esquadrão Atari. Estará a realidade se aproximando da ficção? Deus queira que não...
Texto escrito pelo profº Adriano.
3 comentários:
Oi, Adriano! Parabéns, belo texto! Também compartilho da sua preocupação. Mas tenho a esperança de que as coisas mudem, que as pessoas se sensibilizem, que as sementes que semeamos dêem muitos e bons frutos.
Afinal, nossos jovens merecem uma sociedade mais humana!
Vamos escrever, desenhar, expressar boas idéias, vamos contagiar nossas crianças com a sede de saber e ser!
Um abraço!
Oi Adriano
parabéns pelo texto. Eu também sou um fã do Esquadrão Atari. Me diverti muito com as estórias desse gibi. Os personagens eram de fato muito cativantes. Principalmente por serem tão diferentes entre sí. No final era apenas uma grande família que se protegia.
Muito criativo Professor.. gosteii muito mesmo
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